quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Mudar o mundo

Mudar o mundo. Sonho de uns, tolice para outros. Muitas foram as revoluções, guerras, contra uma idéia ou um governo. Algumas ideologias estão por aí até hoje, talvez, para lembrar que vale lutar pelo que se quer. Mas, o que se quer? Mudar o mundo? Nada é tão simples quanto um filme hollywoodiano. E não é apenas por ser difícil, pois isso, poderia levar tempo, mas algum dia seria concluído. Mas aí está o problema. Respostas se arranjam, basta fazer a pergunta certa.
Hoje está cult dizer que quer mudar o mundo. A contra- cultura é cult. Não ser alienado é cult. É muito bonito dizer “papai, eu quero mudar o mundo”. Mostra que não é qualquer um, que não tem cabeça vazia. Mas talvez seja só mais um, dizendo o que todos os outros dizem, assim, só por dizer. O caso aqui discutido não é o clássico “todos querem mas ninguém toma uma atitude”. “A acomodação deixou o jovem alienado. O impede de ver a realidade e tentar consertar as coisas”. Será mesmo?
O ser humano é nostálgico por natureza e, esse senso romântico de sentir/ pensar/ falar que “o mundo era melhor antigamente” é prova disso. Então, no tempo em que os escravos eram maltratados sem escolha, só para citar um exemplo, o mundo era ótimo. Essa é a questão. Era ótimo, pois, se dizia ótimo. Era ótimo, pois, o povo que sabia e podia escrever e divulgar suas opiniões e notícias não eram os escravos.
“A violência nunca esteve como hoje”. Eu duvido. Mas isso é uma opinião própria. Nos tempos de guerras, pestes, massacres, provavelmente morria muito mais gente. Porém nada disso era divulgado. Já a mídia sim, ela é muito mais ampla hoje em dia. E se os jornais, revistas e noticiários vendem muito mais expondo assassinatos e roubos, a escolha deles é simples: e vendem tragédias e não esperança.
Muitas coisas, portanto, dadas como exageradamente piores hoje, estão iguais. Apenas mais divulgadas. Os reis, rainhas e nobres, nos seus palácios de ouro são, talvez, tão corruptos quanto os de terno e gravata de Brasília. E cobram tantos impostos, da mesma população pobre, quanto os de hoje. Só mudaram de roupa.
A conclusão que muitos chegam é que o mundo não quer ser mudado. E eu poderia terminar o texto assim, todo cult, concluindo isso. Mas ainda teimo em dizer que o que se deve achar é a pergunta certa. E descobrir que mundo é esse que queremos mudar.
Parto do ponto que tudo é relativo. Para propagandas beneficentes, você pode mudar o mundo ajudando uma criança ou adotando um cachorro. Para um estudante, o símbolo de mudar o mundo pode ser um adesivo do Che Guevara colado na moto e, para um pesquisador, mudar o mundo pode ser o que a Revolução Francesa fez. O mundo muda constantemente, isso é fato. Senhores feudais não jogavam videogame.
Então, que mudar o mundo é esse que o mundo grita? Consertar todos os erros que vê pela frente? Como, se os mesmos que falam em mudar o mundo, por vezes, confessam que desistiram do próprio país, que nada tem mais jeito? Como mudar o mundo sem mudar o próprio país e, como mudar um país sem mudar a si próprio? É clichê, mas é real. Como assim “o Brasil não tem mais jeito”?. Então, já teve jeito? Que mania a nossa de nos fazermos de coitados, como se nossa sociedade e o nosso tempo fossem os piores já vistos. Sim, por nós.
Talvez Tiradentes vendo esse mundo cheio de aparente liberdade, onde se fala o que se pensa é, na verdade, perfeito. Ou talvez, você conclua que pensar cansa e só se é feliz quando não se reflete e escondem-se os problemas. Ou(tomara), não.
Somos todos uma metamorfose ambulante, assim como o mundo. Confesso que eu mesma comecei a escrever a crônica pensando em falar sobre como as escolas se contradizem ao dizer que tentam atiçar o “senso crítico do aluno”, ao mesmo tempo em que impõem verdades as quais se ele não mentalizar, não passa na prova. Enfim, eu ia escrever sobre como o mundo não quer ser mudado e, acabei com a idéia de que uma “II Revolução Francesa”, apesar de utópica, seja necessária.

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